"Foi poeta - sonhou - e amou a vida."
Álvares é considerado o melhor representante da poesia ultrarromântica
brasileira, sua melhor criação está em Lira dos vinte anos que estava
terminando de preparar quando morreu.
LEMBRANÇA DE MORRER
Quando o meu peito rebentar-se
fibra,
Que o espirito enlaça à dor
vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em
pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passatempo.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poente caminheiro
- Como as horas de um longo
pesadelo
Que se desfaz ao nobre de um
sineiro;
Como o deserto de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade – é desses
tempos
Que amorasa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade – é dessas
sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe! pobre coitada
Que por minha tristeza te definhas!
De meu pai... de meus únicos
amigos,
Poucos – bem poucos – e que não zombavam
Quando, em noites de febre
endoidecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.
Se uma lágrima as pálpebras me
inunda,
Se um suspiro nos seios treme
ainda,
É pela virgem que sonhei... que
nunca
Aos lábios me encostou a face
linda!
Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se viveu, foi por ti! e de
esperança
De na vida gozar de teus amores.
Beijarei a vontade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho
amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!
Descansem ao meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz e escrevam
nela:
- Foi poeta – sonhou e amou a vida.
–
Sombras do vale, noites da montanha,
Que minh’alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramei- lhe canto!
Mas quando preludia ave d’aurora
E quando à meia noite o céu
repousa,
Arvoredos do bosque, abri os
ramos...
Deixai-me alua prantear-me a lousa!
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