sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Dilemas no cortiço



 O Cortiço é considerado a obra prima de Aluísio de Azevedo, é um romance de tese, pois apresenta um olhar coletivo, orientando para um olhar social. Esta obra é totalmente descritiva, Azevedo conta detalhadamente todos os pormenores, apresentando situações em que juntamente com o livro vivemos e sentimos, pois ele descreve profundamente as mais distintas ações, retratando a realidade do submundo, da decadência e da miséria em que o ser humano vivia.
Nesta obra, Aluísio de Azevedo trouxe inúmeras depravações como a prostituição e o lesbianismo, neste contexto entra a personagem Pombinha que foi abusada sexualmente por Léonie,
E, apesar dos protestos, das súplicas e até das lágrimas da infeliz, arrancou-lhe a última vestimenta, e precipitou-se contra ela, a beijar-lhe todo o corpo, a empolgar-lhe com os lábios o róseo bico do peito. [...] E metia-lhe a língua tesa pela boca e pelas orelhas, e esmagava-lhe os olhos debaixo dos seus beijos lubrificados de espuma, e mordia-lhe o lóbulo dos ombros, e agarrava-lhe convulsivamente o cabelo, como se quisesse arrancá-lo aos punhados. Até que, com um assomo mais forte, devorou-a num abraço de todo o corpo, ganindo ligeiros gritos, secos, curtos, muito agudos, e ao final desabou ao lado, exânime, inerte, os membros atirados num abandono de bêbado, soltando de instante a instante um soluço estrangulado. (AZEVEDO, 2007, p. 129 - 130).

Léonie contribuiu para que Pombinha se tornasse mulher, além disso, este acontecimento fez com que futuramente a jovem se desiludisse com o casamento para o qual foi preparada desde pequena, ela tentou entrar nos padrões sociais, mas percebeu que sua felicidade estava em outro caminho deixando bem claro que queria uma companheira, com isso ocorreu o fim do seu casamento. Este tema sobre homossexualismo que Azevedo expôs na época chocou os leitores, hoje em dia é um assunto muito publicado, como exemplo uma matéria da revista Nova que apresenta um depoimento, no qual uma amizade de faculdade entre duas garotas explodiu em um frenético affair, (2011, p. 86-87) “... Assim que nos deitamos senti a vibração entre nós mudar do amigável para algo mais. [...] Ficar com uma garota pela primeira vez foi emocionante, mas, estranhamente, também pareceu muito amigável para mim”. Muitas pessoas sofrem um enorme dilema ao assumir a homossexualidade, o grau de aceitação muitas vezes não é positivo e em virtude dos preconceitos sofrem com inúmeros problemas emocionais.
Outro aspecto que chama a atenção nesta obra é a exploração do homem, como vemos nas cenas em que João Romão abusava de Bertoleza. Toda riqueza conquistada por ele foi graças à escrava alforriada, tamanha era a ganancia e o empenho de Romão que acabou construindo o cortiço e tornando-o uma grande edificação, que abrigava personagens de diferentes etnias, valores e vícios, (2007, p. 27) “E, mal vagava uma das casinhas, ou um quarto, um canto onde coubesse um colchão, surgia uma nuvem de pretendentes a disputa-los.”, e assim o cortiço foi crescendo, se desenvolvendo e desabrochando cada vez mais.
Esta obra é abundante, pois nela apresentam-se diversas discussões como a exploração, o adultério, a prostituição e o lesbianismo, expõe também a figura feminina como um mero objeto, o sexo se mostra tão degradante quanto à cobiça, além disso, vemos o cortiço como o primórdio das favelas, cujas moradias se apresentavam em condições extremas de pobreza, um submundo com a mínima infraestrutura habitacional, em que ocorriam casos de violência e com um desenrolar cheio de mazelas.
As favelas cresceram tanto que atualmente tomaram uma boa parte do mundo, existem inúmeros projetos sociais que auxiliam estas comunidades, mas o fato é que nestes locais humildes a realidade é muito triste e muita coisa necessita de reparos, através da união do povo e de projetos educacionais que promovem a inclusão social é que os índices de pobreza podem ser reduzidos, portanto temos que lutar contra a exploração, os preconceitos e as injustiças, para assim garantirmos melhores condições de vida.

 Texto de: Andressa Dai Prai

Referências


AZEVEDO, Aluísio de. O Cortiço. São Paulo: Martin Claret, 2007.


NOVA. Traí meu namorado com minha melhor amiga. São Paulo, a. 39, n. 3, p. 86-87, março 2011.

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