O
Cortiço é considerado a obra prima de Aluísio de Azevedo, é
um romance de tese, pois apresenta um olhar coletivo, orientando para um olhar
social. Esta obra é totalmente descritiva, Azevedo conta detalhadamente todos
os pormenores, apresentando situações em que juntamente com o livro vivemos e
sentimos, pois ele descreve profundamente as mais distintas ações, retratando a
realidade do submundo, da decadência e da miséria em que o ser humano vivia.
Nesta obra, Aluísio de Azevedo trouxe inúmeras
depravações como a prostituição e o lesbianismo, neste contexto entra a
personagem Pombinha que foi abusada sexualmente por Léonie,
E, apesar dos
protestos, das súplicas e até das lágrimas da infeliz, arrancou-lhe a última
vestimenta, e precipitou-se contra ela, a beijar-lhe todo o corpo, a
empolgar-lhe com os lábios o róseo bico do peito. [...] E metia-lhe a língua
tesa pela boca e pelas orelhas, e esmagava-lhe os olhos debaixo dos seus beijos
lubrificados de espuma, e mordia-lhe o lóbulo dos ombros, e agarrava-lhe
convulsivamente o cabelo, como se quisesse arrancá-lo aos punhados. Até que,
com um assomo mais forte, devorou-a num abraço de todo o corpo, ganindo
ligeiros gritos, secos, curtos, muito agudos, e ao final desabou ao lado,
exânime, inerte, os membros atirados num abandono de bêbado, soltando de
instante a instante um soluço estrangulado. (AZEVEDO, 2007, p. 129 - 130).
Léonie contribuiu para que Pombinha se tornasse
mulher, além disso, este acontecimento fez com que futuramente a jovem se
desiludisse com o casamento para o qual foi preparada desde pequena, ela tentou
entrar nos padrões sociais, mas percebeu que sua felicidade estava em outro
caminho deixando bem claro que queria uma companheira, com isso ocorreu o fim
do seu casamento. Este tema sobre homossexualismo que Azevedo expôs na época chocou
os leitores, hoje em dia é um assunto muito publicado, como exemplo uma matéria
da revista Nova que apresenta um
depoimento, no qual uma amizade de faculdade entre duas garotas explodiu em um
frenético affair, (2011, p. 86-87) “...
Assim que nos deitamos senti a vibração entre nós mudar do amigável para algo
mais. [...] Ficar com uma garota pela primeira vez foi emocionante, mas,
estranhamente, também pareceu muito amigável para mim”. Muitas pessoas sofrem
um enorme dilema ao assumir a homossexualidade, o grau de aceitação muitas
vezes não é positivo e em virtude dos preconceitos sofrem com inúmeros problemas
emocionais.
Outro aspecto que chama a atenção nesta obra é a
exploração do homem, como vemos nas cenas em que João Romão abusava de Bertoleza.
Toda riqueza conquistada por ele foi graças à escrava alforriada, tamanha era a
ganancia e o empenho de Romão que acabou construindo o cortiço e tornando-o uma
grande edificação, que abrigava personagens de diferentes etnias, valores e
vícios, (2007, p. 27) “E, mal vagava uma das casinhas, ou um quarto, um canto
onde coubesse um colchão, surgia uma nuvem de pretendentes a disputa-los.”, e
assim o cortiço foi crescendo, se desenvolvendo e desabrochando cada vez mais.
Esta obra é abundante, pois nela apresentam-se diversas
discussões como a exploração, o adultério, a prostituição e o lesbianismo, expõe
também a figura feminina como um mero objeto, o sexo se mostra tão degradante
quanto à cobiça, além disso, vemos o cortiço como o primórdio das favelas,
cujas moradias se apresentavam em condições extremas de pobreza, um submundo
com a mínima infraestrutura habitacional, em que ocorriam casos de violência e
com um desenrolar cheio de mazelas.
As favelas cresceram tanto que atualmente tomaram
uma boa parte do mundo, existem inúmeros projetos sociais que auxiliam estas
comunidades, mas o fato é que nestes locais humildes a realidade é muito triste
e muita coisa necessita de reparos, através da união do povo e de projetos
educacionais que promovem a inclusão social é que os índices de pobreza podem
ser reduzidos, portanto temos que lutar contra a exploração, os preconceitos e
as injustiças, para assim garantirmos melhores condições de vida.
Texto de: Andressa Dai Prai
Referências
AZEVEDO,
Aluísio de. O Cortiço. São Paulo: Martin
Claret, 2007.
NOVA.
Traí meu namorado com minha melhor amiga.
São Paulo, a. 39, n. 3, p. 86-87, março 2011.
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