Ana Terra é um capítulo que faz parte da trilogia O tempo e o vento de Érico Veríssimo,
neste episódio mostra-se a força, o vigor de uma mulher de 25 anos que está
sempre na luta, para salvar seu filho e para defender-se dos problemas encontrados na época de 1777 a 1811, período em que
ocorreram guerras e lutas para conquistar territórios, e foi a fase em que
houve a fundação dos primeiros povoados.
Todos da família Terra, mulher, filha e filhos se
submetem as ordens de Maneco Terra, ninguém ousava contrariá-lo, era ele quem
sempre dava a primeira e a última palavra na estância, lugar que Ana Terra
caracterizava por fim de mundo, no qual não havia relógio, calendário e nem
sequer um caco de espelho, algo que desejava muito, pois as únicas vezes que
conseguia se enxergar era quando via sua imagem refletida na água (2005, p. 9 -
10) “Deu alguns passos à frente, ajoelhou-se à beira do poço fundo, fez avançar
o busto, baixou a cabeça e mirou-se no espelho da água. Foi como se estivesse
enxergando outra pessoa: uma moça de olhos e cabelos pretos, rosto muito claro,
lábios cheios e vermelhos.”, nessa situação vemos a necessidade de uma mulher
vaidosa que apetece por conhecer-se, ver sua beleza, seus atrativos, seu corpo,
enfim ver sua feminilidade, seu erotismo. Dentre os vários desejos de Ana
estava a vontade de outra forma de viver, em lugares mais povoados, pois se
sentia infeliz vivendo naquele mundo perdido que era a estância da família.
A vida de Ana Terra remetia-se a ajudar a mãe na
cozinha, fazer a comida, cuidar dos animais, fazer a limpeza da casa, lavar a
roupa, enfim as mulheres eram voltadas somente ao serviço doméstico, Maneco
Terra (2005, p. 14) “dizia que mulher era para ficar em casa, pois moça solta
dá o que falar”. As damas carregavam inúmeros afazeres, trabalhavam muito,
sofriam muito por seus filhos, Ana chegou a afirmar em um dos partos que fez
(2005, p. 83) “– É mulher. – E a seguir, sem amargor na voz quase sorrindo,
exclamou: – Que Deus tenha piedade dela!”, desejando sorte e felicidade para
que a criança não passasse o que ela passou na vida.
O rumo sem amor na vivência de Ana muda ao aparecer
Pedro Missioneiro, ela se encanta pela música do índio e no desenrolar da
história passam a ter um romance escondido. Os únicos momentos de felicidade
foram os que ela passou ao lado dele, com quem se dá sua entrega corpórea, se
embriagam de carinhos vivendo uma intensa relação (2005, p. 42)
Sentiu quando o corpo do índio desceu sobre o dela,
soltou um gemido quando a mão dele lhe pousou num dos seios, e teve um arrepio
quando essa mão lhe escorregou pelo ventre, entrou-lhe por debaixo da saia e
subiu-lhe pelas coxas como uma grande aranha-caranguejeira. [...] seu corpo ia
sempre que possível para Pedro, com quem continuava a encontrar-se à hora da
sesta no mato da sanga.
Após a morte de Pedro, que era o
seu único bem-estar, Ana se torna uma pessoa dura, nela passam a se destacar a
rigidez e a sua força, vive somente para seu filho, para salvá-lo dos perigos
se submete a circunstâncias terríveis, demostrando assim o amor materno e seu
ardor.
Sua grandeza está diante do sofrimento, da vida e
da morte. Em um dos momentos do episódio, Ana em defesa da família entrega-se
aos horrores dos castelhanos que invadem a casa para saquear, com isso para
salvar seu filho, sua cunhada e seu sobrinho, finge ser a única mulher da casa
aos bandidos, os quais a torturam e a estupram várias vezes. Veríssimo destaca
a forma com que ela lida emocionalmente à violência
do estupro. Ana com determinação e com a ousadia de uma mulher que reúne
braveza, pecado, culpa e angústia prova sua astucia, coragem, força e seu amor.
A opressão às mulheres é muito ressaltada por
Veríssimo, onde eram submetidas a conformidade de servir e procriar, as quais
se sujeitavam ao silêncio, não eram permitidos questionamentos e sim somente
deviam acatar as ordens estabelecidas, eram como propriedade de seus maridos.
No texto o autor destaca os valores, as qualidades femininas, a garra, a
obstinação e a capacidade de resistência aos inúmeros obstáculos da época,
vemos Ana além de dedicar-se a família, destaca-se por seu trabalho como
parteira, está sempre na luta.
As mulheres conquistaram muitas coisas com o tempo,
agora têm a possibilidade de decidir com autonomia, e ao passar dos anos
esforçam-se cada vez mais para construir, desenvolver o papel que possuem no
mundo, ocupando cada vez mais espaço em todas as áreas profissionais, desde
trabalhos intelectuais a trabalhos braçais. Não esquecendo que além das funções
profissionais elas desempenham atividades familiares, portanto devemos
parabenizar as mulheres, que antes excluídas e incumbidas somente ao cuidado da
casa e dos filhos superaram barreiras estabelecendo muitas conquistas.
Texto de: Andressa Dai Prai
Referências:
VERÍSSIMO, Érico. Ana terra. 3 ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005.
Nenhum comentário:
Postar um comentário