Persépolis (2007) registra uma história de
vida incrível e cativante sobre alguém que cresceu num país em constantes mudanças
e conflitos. Marjane e sua família sofreram com a revolução islâmica e ela,
espirituosa e contestadora desde pequena, foi "exilada" pelos pais na
Europa, onde passou toda a adolescência (e alguns de seus maiores apuros).
O longa faz um apanhado dos "melhores
momentos" de uma história em quadrinhos publicada na França que não
demorou pra ser publicada também em diversos outros países.
O traço de Marjane, inconfundível, recebe vida, texturas e outros tons de cinza.
Persépolis transborda carisma e um bom-humor. A obra é
cativante, além do fato de ser feita em quadrinhos, também chama atenção por
sua trilha sonora, composta por Iron Maden e a música Eye the of Tiger,
do filme Rocky, que embala um dos momentos mais cômicos do filme.
A
adolescência ganha em Ginger & Rosa uma abordagem que sublinha ser
esta a fase da vida em que tudo se torna urgente, colocando em perspectiva a
efetiva possibilidade de cada dia ser mesmo o último. Este filme britânico
reflete na amizade de duas meninas o temor da guerra nuclear que tencionou o
mundo nos anos 1960.
É
uma tensão pontual essa, ambientada em 1962, quando americanos e soviéticos
mediram ameaças e arsenais diante da chamada crise dos mísseis em Cuba. No meio
do caminho entre as duas superpotências, em Londres, Ginger (vivida pela
encantadora Elle Fanning) acompanha pelo rádio as projeções catastróficas que
estimam os milhões de mortos e a devastação iminente no mundo ocidental.
Ginger
mostra grande abatimento diante dessa catástrofe, ao ponto de evitar a projeção
de sua vida para o dia seguinte. Diferentemente dela, Rosa (Alice Englert,
recentemente vista em Dezesseis Luas) segue plenamente disposta a tocar a sua
sem maior abalo. As duas garotas nasceram lado a lado na maternidade, ao final
da II Guerra, suas mães são grandes amigas, mas elas agora estão prestes a
seguir caminhos opostos.
Rosa
cresceu sem o pai, enquanto Ginger admira o seu (papel de Alessandro Nivola),
um veterano de guerra agora engajado na militância pacifista e cujo espírito
libertário provocará uma dolorosa decepção na filha e na mulher (Christina
Hendricks, conhecida pelo seriado Mad Men) — num titubeante
direcionamento melodramático que o filme ganha a horas tantas.
Em
meio a esse capítulo emblemático da Guerra Fria, Ginger & Rosa capta
com precisão um momento de transição que seria determinante no século 20: a
ruptura geracional. As garotas, naquele ambiente embrionário da beatlemania, da
Swinging London, da revolução sexual e do protesto como ferramenta de
contestação, ainda tinham como modelos suas mães, donas de casa passivas e
dependentes de seus maridos.
O
rito de passagem que o filme particulariza nas duas meninas foi também o de uma
geração que acendeu, naquele instante, o estopim para uma explosão de energia
que, esta sim, viria a transformar radicalmente o mundo.