O livro “Vidas
Secas” de Graciliano Ramos retrata a árida saga de retirantes nordestinos,
o drama vivido pela família de Fabiano é algo que se mantêm atual nos dias de
hoje, retratando a real vida de muitas famílias do sertão brasileiro, cujo
sofrimento aparece com muita força mostrando os grandes problemas sociais como
a seca, a pobreza, a fome, a falta de condições humanas, o abuso de pessoas com
posses sobre os mais desfavorecidos, os quais buscam por uma vida melhor, pela
sobrevivência.
Muitas famílias vivem oprimidas, sufocadas por donos
de terras, estes proprietários abusão destes indivíduos que vivem com migalhas,
algo escasso que mal garante a sobrevivência, trabalham muito e ganham quase
nada o que é indiscutivelmente injusto. Em “Vidas
Secas” vemos esta opressão
Ao chegar a
partilha estava encalacrado e na hora das contas davam-lhe uma ninharia. [...] Fabiano
[...] notou que as operações de sinhá Vitória, como de costume, diferiam das do
patrão. Reclamou e obteve a explicação habitual: a diferença era proveniente de
juros. Não se conformou: devia haver engano. [...] Com certeza havia um erro no
papel do branco. Não se descobriu os erros e Fabiano perdeu os estribos. Passar
a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava
direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca ganhar carta de alforria. (RAMOS, 2012,
p. 94)
Graciliano Ramos quer mostrar o homem e a vida
típicos da região do nordeste brasileiro, a ausência de educação e de
conhecimento. Através de Fabiano e sua família mostram-se os problemas que o
léxico empobrecido e a falta de argumentação trazem, pois a família não possuía
sequer recursos verbais para discutir qualquer tipo de ofensa ou humilhação
pela qual passava. Fabiano (2012, p. 20) “... falava pouco. Admirava as
palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir
algumas...” também se irritava com perguntas de seus filhos, para ele estavam
muito curiosos e enxeridos, que de nada lhe serviam as palavras difíceis fazendo
referência a Tomás da bolandeira que (2012, p. 23) “falava bem, estragava os
olhos em cima de jornais e livros, mas não sabia mandar: pedia.”, mas Fabiano tinha
compreensão de que as palavras de Tomás da bolandeira de muito lhe auxiliariam,
como quando foi preso tentou falar com respeito e gaguejando procurou as sábias
palavras de seu amigo para explicar-se para o soldado amarelo. Constatamos aqui
a necessidade de sabermos argumentar e de sabermos dialogar, algo que Fabiano
sonhava conquistar para seus filhos, disponibilizar a eles um futuro com melhor
educação.
A estiagem é o grande problema da região, devido à
seca as famílias sofrem com a fome e com isso surge a necessidade de migrar, em
busca de um lugar mais produtivo que alimente e traga esperança de uma vida
melhor. A cachorra Baleia aparece como grande heroína, que em momento de fome
acaba alimentando os retirantes (2012, p. 14) “... trazia nos dentes um preá.
Levantaram-se todos gritando. [...] Aquilo era caça bem mesquinha, mas adiara a
morte do grupo.”. A cachorra recebe carinho de todos é tratada como membro da
família.
Em
uma matéria de 27 de junho de 2012 para Gazeta Brazilian News, Fernando
Rebouças fala que no nordeste “A seca tem causado abusos de ordem política,
como carros pipas, que distribuem água em troca de votos para candidatos a
vereador nas cidades do interior, além do roubo de água para determinadas
fazendas e reservatórios de carros pipas.”. Realidade absurda retratando a
corrupção, o abuso de poder sobre os pobres, esses fatos influenciam muito na
decisão das famílias que veem nas capitais do Brasil a possibilidade de uma
vida melhor. Estas migrações muitas vezes não são bem sucedidas, porque as
famílias sofrem com as dificuldades encontradas nos grandes centros, sendo que
um dos grandes problemas com que se deparam é a falta de emprego, pois o grau
de instrução muitas vezes é baixíssimo e com isso passam a viver de “bicos”,
continuando com uma estrutura de vida precária.
Esta visão que Graciliano Ramos nos passa em “Vidas Secas” é uma experiência cruel mostrando
a vida sacrificada e
desumana do sertanejo, além disso, aparece com força a luta
dos homens por liberdade e por melhores condições, sendo assim um romance que
busca sensibilizar o leitor quanto às causas humanas. A esperança está presente
nos personagens, fazendo com que sigam na luta, pois a cada passo novas
perspectivas iam se criando. A realidade é muito triste e muita coisa necessita
de reparos, temos que lutar contra a exploração e contra as injustiças, unidos
pelas causas sociais e como Fabiano e sua família não deixar morrer a
esperança, pois é ela que nos move na busca pela felicidade.
Texto de: Andressa Dai Prai
Referências
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 117 ed. Rio de Janeiro: Record,
2012.
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