quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Dedicatória por Biel Gomes



Sensacional este curta de Biel Gomes!

“-Em novembro do ano passado, uma pessoa superimportante pra mim, iria fazer aniversário no dia 09. Mais ou menos uma semana antes resolvi dar de presente a ela o livro "Poesia Completa" do Manoel de Barros (poeta preferido dela). Quando cheguei em casa com o livro e decidi escrever a dedicatória. Porém, não consegui. Talvez pela infinita distância entre a beleza da escrita do Manoel e a minha. Ou talvez pela distância entre mim e ela. Não sei. Sei que com isso, comecei a pensar que era o próprio livro que não me deixava escrever nas suas páginas, pensei que como a poesia de Manoel de Barros foi escrita no meio do mato, o livro podia estar traumatizado por estar numa cidade de concreto, precisando se reencontrar com os lugares que ele foi concebido pra me deixar escrever a dedicatória. Pois é, viajei né? Sim, viajei. Dessa viagem da minha cabeça, acabou virando algo real. Como faltava só uma semana para o aniversário Dela, comprei uma passagem no dia seguinte para Campo Grande, terra do Manoel. Nesse momento, pensei em registrar toda essa trajetória de uma forma experimental, para ver se dali saía talvez um curta, um documentário, uma dedicatória. Passei 3 dias lá sozinho, levando o livro pela cidade, pelo meio do mato, no meio dos bichos e afins. Fazendo cada poesia do livro voltar a sentir "o cheiro do sol de lá"... Toda essa trajetória me levou a um final incrivelmente mais lindo do que eu poderia imaginar, mas isso prefiro que vocês vejam no próprio filme.
Bom, voltando a trajetória, voltei para Porto Alegre e consegui finalizar o curta até o dia do aniversário. Entreguei para Ela o livro com um laço de presente, na Casa de cultura Mário Quintana. Mas, antes que ela abrisse o livro para ver a dedicatória, fomos até umas das salas de cinema de lá e passei o curta numa sessão fechada pra ela. Essa é a história desse curta, dessa experiência... Espero que vocês gostem.” (Biel Gomes).

http://vimeo.com/43444119


sábado, 24 de novembro de 2012

Choque de culturas

Na chegada dos portugueses, os índios se prostraram pasmos, curiosos, já para os viajantes os índios eram vistos como um povo ingênuo, simples, sem maldade, inocentes e com muitas riquezas, riquezas essas que os encantaram, e desta terra brasileira tiraram tudo o que puderam, extraíram minérios, alimentos, especiarias, abusaram das mulheres indígenas entre tantos outros fatos decorrentes da época.
Os indígenas usufruíam desta terra de uma maneira linda, respeitosa, viviam com a finalidade de viver, gozar a vida, respeitavam a natureza, da qual tiravam seu alimento, e obtiveram extremos conhecimentos de ervas por anos de convivência, assim sabiam a finalidade de cada uma.
Com sede de riqueza, de reconhecimento, chegaram os portugueses malcheirosos, exaustos de meses de navegação e com seus conhecimentos e presentes começaram a conquistar a confiança dos índios, que mais tarde acabaram por trazer tristeza a um povo tão bonito, um povo que festejava, ria, cantava, dançava, que vivia ludicamente.
Os portugueses de forma selvagem impuseram ordens, com suas argumentações convenciam os índios a trabalharem de forma escrava na construção do Brasil, além de terem feito com que mudassem a forma de vestir, não andando mais desnudos, enfim os jesuítas tinham o objetivo de doutrinar e recriar o modo de vida dos índios, o que fez com que se adequassem e abandonassem em partes suas tradições. A partir dos conhecimentos dos indígenas os portugueses herdaram a técnica de sobrevivência, do deslocamento nesta imensa terra, seus frutos e ervas medicinais, conviveram com outros costumes e tradições, tiveram acesso a tanta riqueza e não souberam valorizar e agradecer.
Darcy Ribeiro apresenta em “O Povo Brasileiro” um choque de culturas, a imagem dos índios em relação aos portugueses e vice versa. O encontro na costa brasileira dos civilizados e dos selvagens, concepções diferentes de mundo, de amor, de vida e de morte que construíram esta nação.

Texto de: Andressa Dai Prai

 

sábado, 6 de outubro de 2012

Voyeur de leituras

(Voyeur de leituras)

Espiar o livro alheio é indiscreto, mas irresistível!

Diana L. Corso
No ônibus, tal era meu empenho em descobrir a identidade do livro que uma moça estava lendo que pegou mal. Num solavanco, quase caí sobre ela. Imagine a posição esdrúxula que a missão requeria. A pobre vítima da ostensiva curiosidade fechou o livro, colocando a mão em cima da capa (maldita!), e proferiu um ofendido “com licença!”. Percebera a indiscrição, reagia como se estivesse lhe espiando o decote. Apesar da natural resistência, o nome do livro acabou sendo descoberto: era evangélico. Foi um banho de água fria. Senti como se tivesse sido expulsa de uma comunhão imaginária, composta pelos que navegam no mesmo universo de fantasias. As escritas religiosas não me tocam, a empatia com aquela leitura era impossível. Uma tristeza, meus esforços haviam sido inúteis.
Sou capaz de ridículos estratagemas para descobrir qual é o livro que alguém esteja lendo em um local público. A capa contém a chave desse mistério, desvela a alma do leitor, é o acesso para um acervo potencialmente partilhável. Quem lê um livro que conhecemos deixa de ser um desconhecido. Porém, essa curiosidade abusada é uma imperdoável profanação da intimidade. Eu devia, como psicanalista, suportar estoicamente a introspecção do próximo. Só me revelariam seus pensamentos quem quisesse.
A leitura é uma intimidade portátil, podemos carregá-la na bolsa, no bolso. É uma experiência onírica controlável, nesse sentido melhor do que as fantasias rebeldes dos sonhos noturnos. Se empolgante, nos possuirá, mas também podemos abandoná-lo para divagar, assim como postergar o clímax. Não é por acaso que a leitura foi acusada de substituta ou incentivadora do onanismo. Sim, trata-se de um prazer solitário: o de embalar sonhos.
Um livro pode livrar-nos do ambiente tenso de uma sala de espera, da imobilidade angustiante da viagem ou do vazio de uma conexão. Na cafeteria, ele mantém afastados os conversadores indesejáveis. Livro é o antônimo de um cachorro, quem sai à rua com seu animal de estimação tem papo garantido. Ao contrário, leitura é refúgio, defensora da solidão aprazível. Por que, então, essa deselegante intromissão na leitura alheia?
Meter-se no livro do outro é voyeurismo, do tipo clássico. O mesmo que leva a criança a espiar seus pais, ou que alimenta a pornografia. O prazer alheio observado ou imaginado, revela e ensina, o voyeur viaja na cena, imagina-se parte dela. De forma segura, já que o espião se protege no anonimato. Olhando, aprendemos os caminhos que o desejo almeja percorrer. Da mesma forma, descobrir a obra que alguém lê é participar da sua cena imaginária, de suas fantasias, adivinhar seu sonho acordado. Não passa de uma devassidão pueril, mas a moça tinha razão de ficar furiosa: é uma desagradável invasão de privacidade. Incontrolável, no meu caso.

Matéria do dia 25/08/12 Comportamento, Revista Vida Simples
(http://www.marioedianacorso.com/voyeur-de-leituras)

sábado, 22 de setembro de 2012

Filme: Anonymous



Anonymous trata de um assunto que há séculos intriga acadêmicos e mentes brilhantes. Quem realmente criou os trabalhos que são creditados à William Shakespeare?
Os especialistas debateram, livros foram escritos e estudiosos tem dedicado suas vidas para proteger ou desmentir teorias em torno da autoria dos trabalhos mais famosos da literatura inglesa.
Anonymous apresenta uma resposta possível, concentrando-se numa época em que escandalosas intrigas políticas, romances ilícitos na Corte Real e esquemas de nobres gananciosos que cobiçavam o poder do trono foram trazidas à luz no mais improváveldos lugares: os palcos de Londres.

Mito ou verdade o filme é instigante...



Segue o trailer do filme:




sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Dilemas no cortiço



 O Cortiço é considerado a obra prima de Aluísio de Azevedo, é um romance de tese, pois apresenta um olhar coletivo, orientando para um olhar social. Esta obra é totalmente descritiva, Azevedo conta detalhadamente todos os pormenores, apresentando situações em que juntamente com o livro vivemos e sentimos, pois ele descreve profundamente as mais distintas ações, retratando a realidade do submundo, da decadência e da miséria em que o ser humano vivia.
Nesta obra, Aluísio de Azevedo trouxe inúmeras depravações como a prostituição e o lesbianismo, neste contexto entra a personagem Pombinha que foi abusada sexualmente por Léonie,
E, apesar dos protestos, das súplicas e até das lágrimas da infeliz, arrancou-lhe a última vestimenta, e precipitou-se contra ela, a beijar-lhe todo o corpo, a empolgar-lhe com os lábios o róseo bico do peito. [...] E metia-lhe a língua tesa pela boca e pelas orelhas, e esmagava-lhe os olhos debaixo dos seus beijos lubrificados de espuma, e mordia-lhe o lóbulo dos ombros, e agarrava-lhe convulsivamente o cabelo, como se quisesse arrancá-lo aos punhados. Até que, com um assomo mais forte, devorou-a num abraço de todo o corpo, ganindo ligeiros gritos, secos, curtos, muito agudos, e ao final desabou ao lado, exânime, inerte, os membros atirados num abandono de bêbado, soltando de instante a instante um soluço estrangulado. (AZEVEDO, 2007, p. 129 - 130).

Léonie contribuiu para que Pombinha se tornasse mulher, além disso, este acontecimento fez com que futuramente a jovem se desiludisse com o casamento para o qual foi preparada desde pequena, ela tentou entrar nos padrões sociais, mas percebeu que sua felicidade estava em outro caminho deixando bem claro que queria uma companheira, com isso ocorreu o fim do seu casamento. Este tema sobre homossexualismo que Azevedo expôs na época chocou os leitores, hoje em dia é um assunto muito publicado, como exemplo uma matéria da revista Nova que apresenta um depoimento, no qual uma amizade de faculdade entre duas garotas explodiu em um frenético affair, (2011, p. 86-87) “... Assim que nos deitamos senti a vibração entre nós mudar do amigável para algo mais. [...] Ficar com uma garota pela primeira vez foi emocionante, mas, estranhamente, também pareceu muito amigável para mim”. Muitas pessoas sofrem um enorme dilema ao assumir a homossexualidade, o grau de aceitação muitas vezes não é positivo e em virtude dos preconceitos sofrem com inúmeros problemas emocionais.
Outro aspecto que chama a atenção nesta obra é a exploração do homem, como vemos nas cenas em que João Romão abusava de Bertoleza. Toda riqueza conquistada por ele foi graças à escrava alforriada, tamanha era a ganancia e o empenho de Romão que acabou construindo o cortiço e tornando-o uma grande edificação, que abrigava personagens de diferentes etnias, valores e vícios, (2007, p. 27) “E, mal vagava uma das casinhas, ou um quarto, um canto onde coubesse um colchão, surgia uma nuvem de pretendentes a disputa-los.”, e assim o cortiço foi crescendo, se desenvolvendo e desabrochando cada vez mais.
Esta obra é abundante, pois nela apresentam-se diversas discussões como a exploração, o adultério, a prostituição e o lesbianismo, expõe também a figura feminina como um mero objeto, o sexo se mostra tão degradante quanto à cobiça, além disso, vemos o cortiço como o primórdio das favelas, cujas moradias se apresentavam em condições extremas de pobreza, um submundo com a mínima infraestrutura habitacional, em que ocorriam casos de violência e com um desenrolar cheio de mazelas.
As favelas cresceram tanto que atualmente tomaram uma boa parte do mundo, existem inúmeros projetos sociais que auxiliam estas comunidades, mas o fato é que nestes locais humildes a realidade é muito triste e muita coisa necessita de reparos, através da união do povo e de projetos educacionais que promovem a inclusão social é que os índices de pobreza podem ser reduzidos, portanto temos que lutar contra a exploração, os preconceitos e as injustiças, para assim garantirmos melhores condições de vida.

 Texto de: Andressa Dai Prai

Referências


AZEVEDO, Aluísio de. O Cortiço. São Paulo: Martin Claret, 2007.


NOVA. Traí meu namorado com minha melhor amiga. São Paulo, a. 39, n. 3, p. 86-87, março 2011.